20.2.07

Edição Carnavalesca: O mais belo dos belos


No carnaval baiano de 1975, aconteceu uma revolução que mudou não só o carnaval, mas também a cultura brasileira. O primeiro bloco-afro, Ilê Aiyê, desfilou.

Desafiando tanto a ditadura militar que represou manifestações culturais que não conformaram aos padrões establecidos como a imagem do Brasil como um paraíso racial, Ilê Aiyê celebrou o Black Power, a beleza negra, e a contribução dos negros ao Brasil.

Ilê Aiyê, que significa “casa de vida” em ioruba, foi fundado por Antônio Carlos dos Santos, conhecido pelos fans como Vovô, e Apolônio de Jesus. Seu objetivo foi criar um grupo para resgatar e homenear a cultura Africana e afro-brasileira, combater ao racismo, e valorizar a communidade negra de Salvador. Com sede em Curuzu na Liberdade, o bairro mais o negro da cidade mais negra do Brasil, Ilê Aiyê era postivamente para negros, pelos negros.

No começo, Ilê Aiyê passou por tempos duros. Alguns o consideraram racista e muitos brasileiros afro-descendentes não se identificavam como "negros". Depois da primeira saída de Ilê Aiyê, A Tarde escreveu, “Não temos felizmente problema racial. Esta é uma das grandes felicidades do povo brasileiro…[e] é de esperar que os integrantes do "Ilê" voltem de outra maneira no próximo ano, e usem em outra forma a natural liberação do instinto característica do Carnaval.”

Mas Ilê Aiyê nunca vacilou no seu objetivo nem nas suas políticas. Cresceu cada ano, e logo se criaram outros blocos-afros como Olodum, Ara Ketu, as Muzenzas, e os Malê de Balê. Esse ano, a saída do Ilê reune os maiores políticos soteropolitanos. O prefeito João Henrique diz, "Ver o Ilê Aiyê passar, saindo do Curuzu, levando para a avenida uma das maiores representatividades da nossa cultura, nos dá muita alegria e satisfação".

Foto: Vovô (o alto) e Paulo Camafeu, quem escreveu, "Que bloco é esse?" a primeira, e ainda uma das mais populares músicas do Ilê Aiyê.


Hoje, Ilê Aiyê não é apenas um bloco carnavalesco, mas também uma organização que desenvolve trabalhos communitários. Dentro dos projetos educacionais que o Ilê realiza está a Escola de Mãe Hilda, que ensina a alunos de 1ª a 4ª series, a banda Erê de Percussão, a escola de dança-afro e cursos profissionalizantes de eletricidade predial, ajudante de cozinha, informática básica e fabricação de instrumentos de percussão.

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