14.10.08

Refleições brasileiras sobre a candidatura Obama

Como a atual crise bancária demonstra, o que acontece nos Estados Unidos – por bem ou por mau- muitas vezes, tem conseqüências profundas pelo mundo inteiro.

Intrínseco ao futuro da economia mundial, a corrida presidencial estadunidense eletrificou o mundo mesmo antes da crise. No Brasil, a idéia que um negro pode sassumir a presidência do seu vizinho poderoso e influente do norte é a causa de grande animação e debate.

O jornal baianho Folha de Salvador recentemente pediu que alguns líderes proeminentes da comunidade negra refletissem no que um presidente americano negro quereria dizer para o Brasil. Aqui está o que eles acharam:
Lázaro Passos Cunha (Diretor de Projetos do Instituto Cultural Steve Biko)
“A sociedade brasileira sempre acusou os Estados Unidos de praticarem um racismo mais radical do que o existente aqui, mas o Brasil é uma nação muito mais excludente. Com a eleição de Obama, acredito que as mudanças, em termos nacionais, virão através das pressões que serão exercidas sobre as elites, que muito questionam sobre as políticas de ações afirmativas como, por exemplo, a implantação das cotas nas universidades, mas nunca se preocuparam com a qualidade do nosso ensino público fundamental.”

Cláudia Santos (Professora Mestra em Estudos Étnicos Africanos e militante do Jornal Irohin (significa “notícia” na língua yorubá)
“A idéia de um presidente negro é algo que já circula na nossa sociedade desde o início do século passado. O livro O presidente Negro, de Monteiro Lobato é uma ficção que, em 1926, já abordava a possibilidade de ascensão do negro na esfera política. Lobato escolheu o ano de 2228 para o seu personagem concorrer e chegar à presidência dos Estados Unidos. Hoje, vemos aí o Obama como uma revisão de todo o estereótipo de incapacidade associado ao negro e isso é fruto do resultado de um processo de políticas públicas. Ele é uma inspiração para nós em todos os sentidos, mas fazemos parte de uma história diferente. É preciso reconhecermos e valorizarmos nossas origens e lutarmos para fortalecer os debates étnicos-raciais no centro das discussões políticas, para que tenhamos a chance de chegar lá.”

Gilvan Assunção (Fundador da UNEGRO – União de Negros pela Igualdade)
“Obama é um homem que teve uma ascensão com o pé no chão e não virou estrela. Ele conseguiu sair ileso de todas as acusações que lhe fizeram. Hoje, está habilitado a ser um grande líder da negritude mundial. Ainda que não chegue à presidência, já é uma influência bastante positiva, principalmente para os jovens. Nosso movimento, aqui no Brasil, está no caminho certo, mas não podemos nos espelhar apenas no que estão fazendo lá fora. Precisamos ter mais garra, pois as coisas aqui são um pouco lentas, devido ao processo histórico no qual o negro está inserido.”

Antônio Carlos dos Santos, Vovô (Fundador e presidente do bloco afro Ilê Ayê)
“A visibilidade que ele (Obama) está tendo com o fato de poder ser o primeiro negro a governar a maior potência do mundo certamente nos faz repensar a nossa situação. Porém, nós temos uma cultura que muito nos prejudica e precisa ser mudada: muitos negros ainda sofrem da escravidão mental e não votam em um candidato negro. Na África do Sul, quando foi dada a oportunidade de voto ao negro, eles elegeram Mandela e mudaram sua situação. Aqui, nós sempre tivemos esse instrumento, mas não sabemos utilizar. Já virou uma coisa cultural acreditar que só o branco pode resolver os nossos problemas”.
Leia o artigo completo aqui.

E apesar do tanto progresso que a candidatura Obama significa para os EUA, ainda existe um racismo forte e insidioso no país que só será vencido com a conscientização e entendimento do povo. Já é hora, gente.

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