21.5.08

"Quem não pode com Besouro..."

      
Uma personagem que aparece muito na músicas da capoeira, e ainda mais nas lendas mais fantásticas da capoeira é o famoso e misterioso Besouro Preto de Mangangá. Nascido na cidade de Santo Amaro de Purificação em 1885, Manoel Henrique Pereira se mitificou como um dos maiores capoeiras, o Besouro Preto de Mangangá, ou Besouro Cordão de Ouro, ainda que morresse com menos de trinta anos de idade.

No livro “Bimba, Pastinha e Besouro de Mangangá, três personagens da Capoeira Baiana”, o autor, Antonio Liberac Cardoso Simões Pires descreve as mudanças na prática da capoeira (especialmente a mudança da capoeira da rua à academia) no começo do século XX pelas vidas de Mestre Bimba, Mestre Pastinha, e Besouo Preto.

O autor também descreve as pesquisas que fez para conseguir informações, especialmente sobre a figura de Besouro Preto. Em alguns momentos, ele até duvidou a existência de um homem tão legendario que fugiu da polícia vooando e não podia ser ferido por causa do seu corpo fechado. O autor então pesquisou nos registros dos cais de diversas cidades da Bahia e nos documentos oficiais da polícia. Também entrevistou várias cidadões da cidade de Santo Amaro para acertar a história dessa figura tão misteriosa. A maioria da informação no livro sobre a vida de Besouro Preto vem de um colega dele conhecido como Noca de Jacó. Aqui, apresentamos um trecho sobre os dois:

Noca de Jacó tornou-se o principal informante sobre a vida e obra de Besouro de Mangangá, pis ele guardou casos na memória, acompanhou de perto a vida do mestre, nos momentos mais calmos, mais íntimos, quando estava a trabalho na lancha “Deus me Guie”, nas galinhadas e nas rodas da capoeira, enfim, em seus momentos de paz e guerra. Daí não foi à toa que Noca de Jacó ficou conhecido na cidade como o mais antigo capoeira, ainda vivo na época da realizaçào das pesquisas. Segundo ele, Besouro teria sido uma pessoa que não gostava de arraças, nem covardia, era um homem bom, mas valentão. Quando estava em Santo Amaro, Besouro ficou mais em seu reduto, no Trapiche. Às vezes, viajava de saveiro. Tinha que lever as mercadorias, atrevessando a Bahia de Todos os Santos. Besouro desafiava quem tinha nome, quem poderia aumentar-lhe a fama, como o costume de todo o valentão e, às vezes, também tinha que se desfrontar com a polícia que também possuia, entre seus quadros, valentões. E foi o que occureu na época em que Besouro ainda trabalhava na lancha:

“Acontecido se deu no Largo da Cruz. O soldado desafiou Besouro (Besouro respondeu) volta, volta que eu não quero te fazer nada. Besouro pegou o révolver da cavalaria.”

… Besouro correu pelo Beco do Xaréu, atravessou a ponte. [O soldado] José Costa, que corria muito, consegiu aproximar-se de Besouro, mas foi atingido pelos disparos de révolver de Besouro. A valentia de Besouro é lembrada por todos. Nesse caso, ele acertou dois tiros no braço do policial. O fato de ele ter enfrentado a polícia o tornou um herói, um mestre para os meninos do Trapiche de Baixo, onde jogavam capoeira descalços e de roupas comuns. Sua fama acabou virando lenda. A população foi produzindo histórias sobre ele em que os casos e coisas impossíveis, misturavam-se com o possível… Contaram-me certa vez que ele tinha poderes de desaparecer, transformer-se em besouro e voar fugindo de seus inimigos. Alías, suas fugas fantásticas da perseguição policial são um traço marcante em todas as aventuras guardadas na memória popular…

O livro é muito bom, e é descreve muito bem a relação de capoeira com a rua, a violência, e a polícia no começo do secúlo XX.

Pode achar esse livro na biblioteca do Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia ou, em muitas das livrarias perto do Centro da cidade de Salvador.
      

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, creio que houve um engano pois pelo livro de Liberac Besouro nasceu em 1895 e morreu em 1924, tendo na época 29 anos.

Abs, Artur Xavier, ECAVV, Niterói, RJ.